Esta mostra inclui gravuras e fotografias realizadas nos últimos cinco anos.
Há cores que foram acrescentadas “a posteriori”, não muito habituais em gravuras até algum tempo atrás. Há um certo medo intelectual da cor. O mesmo do tempo em que filme sério era o preto e branco. Que a gravura de conteúdo era preta, e ponto. Medo de ser popular, medo de gosto de pobre (“o luxo do pobre é a cor”, disse Aldemir Martins).
Seja como for as cores ai estão por influencia de amigos artistas (Paulo Borgato, Claudia Sperb, Maria Tomaselli), por limitações técnicas locais de introduzi-las já na impressão, por vontade de colocá-las e por que muitos gostam.
As fotografias, influencia no olhar das gravuras e por elas influenciadas são para mim, companheiras habituais. Desta forma estão juntas, se espelhando aqui também. O espelho apareceu porque na sala da “maior menor galeria de Porto Alegre”, no dizer de seu entusiasta dono, João Luis Steinbach, há dois espelhos.
E o espelhar remete para,
- Arte como espelho da natureza, como queria Courbet.
- Arte como espelho de nós mesmos. Até do inconsciente como querem alguns.
- Arte como espelho de quem vê.
- Arte de hoje em que pode se espelhar tudo o que se quer, da época e do jeito que se quer. Mais um problema do que uma facilidade…
- Espelhar de duas gravuras, uma mono e uma de varias cores.
- Espelho dentro das gravuras, céu na água, no gelo, nas sombras.
- Espelho da loja do João Luis. Quem escolhe o que quer ver é quem olha, ninguém mais. Sem cura nem idéias museologias. O que já espelha uma idéia…
- Espelho de gostos, espelho de desgostos, espelho do outro, que representa muitas vezes o céu, não o inferno.
Agradeço a compreensão com minha presença demasiado constante, talvez insistente, mas garanto que a pletora de obras é orgânica e pessoalmente coerente. Tudo se espelha, portanto nem tudo é transparente. Espero que a exposição transmita à vocês algo de bom, algo de belo, algo a refletir. Espero também que possam atravessar os espelhos como a Alice, “que ousou entrar no outro pais e descobriu o mundo” como disse o grande amigo Aldo Duarte.
Galeria Prata da Casa. Porto Alegre, Brasil, agosto 2019.
Uma resposta
Good article!