MONOTIPOS - 5

Antônio Gerbase e o mergulho no mistério do volume

Por Maria Tomaselli

Nasceu na planície, mas para não desmerecer o morros der Porto Alegre ou as cochilas do Pampa gaúcho, vamos admitir que ele já havia sentido nos pés e nas panturrilhas o esforço desprendido para vencer uma subida íngreme, antes de morar na Suíça.

Subir uma montanha dos Alpes Suíços é como refazer com todos os sentidos, não apenas com os olhos, os vales, as curvas, as dobras, os nichos, os penhascos, os abismos, as massas, os níveis, os planos, as linhas as superfícies e profundezas. É a aproximação a um objeto muito além da dimensão do corpo humano, mas ao seu alcance, se ele respeita suas particularidades, as do seu corpo e as da montanha, que está inserida numa atmosfera toda sua, desconhecida para um  morador de uma cidade. Ela muda constantemente, de suave para perigosa, de iluminada e ensoleirada  até fúnebre e mortal, encoberta por brumas e neves, chuvas e nuvens, ou brilhando no sol. O homem se aproxima ou se afasta, ciente de sua fragilidade perante à natureza. 

Essa vida das montanhas Antônio Gerbase captou com maestria em suas aquarelas, óleos se xilogravuras. Estudou a geometria dos planos, sua arquitetura, as cores, das montanhas  e as cores dele.

Porque a majestade de um monte, seu inesgotável volume com todas as suas dobras e nuances de cor, faz a alma vibrar. Como sabemos do Mont Sainte-Victoire, cento e quinze anos atrás.

Exposição individual de monotipias de Antonio Gerbase. Galeria de Arte Paulo Capelari, Porto Alegre, Brasil, 6 a 24 de novembro 2017.

“Relevos Oníricos”, de Antônio Gerbase, ganham exposição na Galeria de Arte Paulo Capelari

Relevos Oníricos” dá título à exposição que o artista plástico Antônio Gerbase inaugura no próximo dia 06 de novembro, na Galeria de Arte Paulo Capelari, em Porto Alegre. A individual reúne 21 peças na técnica de monotipia e quatro xilogravuras, em um total de 25 obras de médios e grandes formatos, que tem como tema predominante as montanhas. Paulo Borgato Olszewski assina a curadoria da mostra, que permanecerá em exibição até o dia 24 de novembro.

A atual exposição de Antônio Gerbase é resultado de um processo artístico iniciado há cerca de 10 anos e que nos últimos cinco tem se intensificado. Gerbase teve atuação por muitos anos como médico da Organização Mundial da Saúde (OMS) na área de AIDS e DST. Fora do Brasil desde 1991, mora em Genebra desde 1994, tendo desenvolvido uma ligação próxima com os Alpes, tão presentes na Suíça e nas vizinhas França e Itália. Atualmente, divide seu tempo entre trabalho de saúde pública internacional, seu chalé nos Alpes próximos a Genebra e em Porto Alegre. Pode-se cruzar a trajetória do profissional de saúde publica global com a sua produção de artista, na medida em que as vivências, internas e externas, do cidadão do mundo oferecem substância imagética (e estética) à sensibilidade do gravador e pintor. Por isso, em suas várias incursões pelo mundo, como atual consultor pela OMS, o Gerbase artista não dispensa seu kit de lápis, pincéis, tintas, aquarelas e guaches.

Antônio Gerbase fez seu aprendizado da observação aguda, de intensas e frequentes visitas aos museus do mundo, de seu espírito colecionador, de seu interesse pela historia da arte e do dialogo com outros artistas em suas frequentes andanças. Iniciou-se com intensa prática individual e solitária de desenhar e reinventar seu entorno, seja da natureza que o cerca, seja do obras de três artistas da virada do século 19 ao 20, os quais admira: Hodler, Valoton e Munch. O objetivo de atingir o essencial, a expressividade e a ironia é a difícil tarefa que ele se propõe a desenvolver. Tenta, não sem sofrimento, projetar o que tem dentro de si e produzir algo pertinente para as pessoas que o cercam. E para isto suas atuais interações com seus atuais mentores são fundamentais.

Com mais tempo em Porto Alegre, desde 2014, recebeu (e recebe), formação técnica regular de um naipe de reconhecidos artistas plásticos. Gustavo Freitas (xilogravura), Paulo Chimendes (litografia) Maria Tomaselli e Paulo Borgato Olszewski (pintura) e Marcelo Lunardi (gravura em metal), com o qual desenvolveu as monotipias desta exposição. O lugar de encontro é, na maior parte das vezes, o Museu do Trabalho, local especial e estimulante, onde imprime sua produção. 

Nas 25 peças expostas, com seus relevos oníricos, a cor intervém a cada instante, de forma luminosa, revelando os muitos contrastes da paisagem e do olhar do artista. “Essa vida das Montanhas, Antônio Gerbase captou com maestria em suas aquarelas, óleos e xilogravuras. Estudou a geometria dos planos, sua arquitetura, as cores das montanhas e as cores dele. Porque a majestade de um monte, seu inesgotável volume com todas as suas dobras e nuances de cor faz a alma vibrar”, afirma a artista plástica Maria Tomaselli.  Sobre o trabalho do artista também comentou o psicanalista Aldo Luiz Duarte: “A arte de Gerbase reflete mais a mente do que o olho, o que resulta na multiplicação de uma obra em muitas outras, singulares, dependendo de cada observador. O que mais se pode esperar de um artista?”.

Sobre a monotipia

A monotipia é uma técnica de impressão que consiste na reprodução de um desenho ou mancha de cor em uma prova única. Trata-se de uma placa sobre a qual uma imagem é executada com a tinta adequada. Esta imagem é impressa, tornando-se a cópia única, sendo impossível ser obtido novamente um exemplar igual. Desta maneira, a monotipia situa-se entre as áreas gráficas e o desenho (ou a pintura).

Conforme Luise Weiss, “a monotipia, portanto, constitui-se de um processo híbrido, entre a pintura, o desenho e a gravura. Aproxima-se do gesto da pintura, da mancha de tinta, ou do traço, da linha; ao mesmo tempo possui características próprias da gravura, como a inversão da imagem. Apesar de o próprio nome esclarecer, mono (único) e tipia (impressão), ou seja, que se obtém de uma prova única, em alguns casos há a possibilidade de se conseguir mais de uma cópia, evidentemente cada vez mais tênue, mais clara, permanecendo apenas um “fantasma”/ vestígio da imagem”.

A exposição proposta é fruto de um processo artístico que começou há cerca de 10 anos e se intensificou nos últimos cinco anos.

Antonio Gerbase trabalhou muitos anos como médico da Organização Mundial da Saúde (OMS) na área de AIDS, morando em Genebra desde 1994, tendo desenvolvido uma estreita ligação com as montanhas, tão presentes na Suíça.

Autodidata, segue formação técnica regular em gravura desde 2014 (monotipias, madeira, metal e litografia).

Nas obras expostas, com seus relevos sonhadores, a cor intervém a cada momento, de forma luminosa, revelando os múltiplos contrastes da paisagem e do olhar do artista. “Esta vista das montanhas, Antonio Gerbase capturou-a com maestria em suas monotipias e gravuras. Ele estudou a geometria dos planos, sua arquitetura, as cores das montanhas e suas cores favoritas. Porque a majestade de uma montanha, seu volume inesgotável com todas as suas dobras e tons de cor vibra a alma”, diz a artista austríaca Maria Tomaselli em recente exposição.

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