O Gerbase era para mim umas letrinhas brancas em fundo preto de um monitor de válvula, que apareciam, se eu tivesse sorte e ele fazendo a mesma coisa, ao digitar o comando F, de Finger, no vortex da Urgs, o primeiro provedor de internet da cidade de Porto Alegre. Nós pertencíamos a um grupo, décadas antes do Face, chamado Poanet, fundado por Jacques Brancher, aglutinador de preferencialmente médicos, que viviam no exterior, mas queriam ficar conectados com a sua terra, tal qual o Gerbase que morava na linda cidade de Genebra e trabalhava, e ainda trabalha, na WHO, na organização mundial de saúde.
Que ele tinha o mesmo “olhar cruzado” como eu ao observar o mundo, fiquei sabendo muitos anos depois, quase que recentemente, que tinha olhar e mãos de artista ao observar e interpretar o mundo do Alpes, vindo de Porto Alegre, como eu Porto Alegre, vindo dos Alpes.
Afinidades. Amizade. Muitas coisas em comum ao viajar, ver gente, interferir com pessoas de outra cultura, interpretar comportamentos, ver paisagens, montanhas e planícies, rios e lagos, o mar, igrejas e ruinas, prédios para morar, prédios mostrando a arte. De lá para cá, de cá para lá. Olhares cruzados e mãos dadas.
Feliz primeira exposição, Gerbase.
– Maria Tomaselli
Gravuras de Antonio Gerbase
Espaço Cultural 512,
Porto Alegre, Brasil, 10 Maio a 6 Junho 2016.
Voltou de uma espécie de paraíso, paraíso nas alturas, distante no tempo, distante no espaço. Demonstrando genuíno e forte interesse pelas artes plásticas, levei-o ao encontro dos meus mestres gravadores . Rua da Praia, Museu do Trabalho. Insubstituível Templo da Gravura , endereço certo para encontrá-los.
Primeiro a pedra, mais próxima do verdadeiro desenho. Mestre Paulo Chimendes. Uma breve história da origem da ILitho, os procedimentos, as possibilidades, as diferentes técnicas foram sendo contados…e de repente o espanto. Quase um susto. Provas de uma impressão já descansavam no secador.
Madeira. Um segundo mestre, Gustavo Freitas, foram apresentados … e de repente, espanto de novo. Várias xilos, traços poucos, simples, elegantes, formavam belas paisagens dos Alpes suíços.
Metal. O terceiro mestre. Marcelo Lunardi. Encantando com ácidos e chapas de cobre, água tinta ou agua forte, mais uma vez, agora já sem susto, eu o via lançar-se ao trabalho com maravilhosa coragem. Sem medo de errar enfrentava as três matérias com invulgar talento e naturalidade. E é, com a cumplicidade destes mestres, que o meu amigo e colega, A.G., apresenta pela primeira vez o resultado exitoso destas experiências.
– Paulo Olszewski
Nasceu na planície, mas para não desmerecer o morros der Porto Alegre ou as cochilas do Pampa gaúcho, vamos admitir que ele já havia sentido nos pés e nas panturrilhas o esforço desprendido para vencer uma subida íngreme, antes de morar na Suíça.
Subir uma montanha dos Alpes Suíços é como refazer com todos os sentidos, não apenas com os olhos, os vales, as curvas, as dobras, os nichos, os penhascos, os abismos, as massas, os níveis, os planos, as linhas as superfícies e profundezas. É a aproximação a um objeto muito além da dimensão do corpo humano, mas ao seu alcance, se ele respeita suas particularidades, as do seu corpo e as da montanha, que está inserida numa atmosfera toda sua, desconhecida para um morador de uma cidade. Ela muda constantemente, de suave para perigosa, de iluminada e ensoleirada até fúnebre e mortal, encoberta por brumas e neves, chuvas e nuvens, ou brilhando no sol. O homem se aproxima ou se afasta, ciente de sua fragilidade perante à natureza.
Essa vida das montanhas Antônio Gerbase captou com maestria em suas aquarelas, óleos se xilogravuras. Estudou a geometria dos planos, sua arquitetura, as cores, das montanhas e as cores dele.
Porque a majestade de um monte, seu inesgotável volume com todas as suas dobras e nuances de cor, faz a alma vibrar. Como sabemos do Mont Sainte-Victoire, cento e quinze anos atrás.
– Maria Tomaselli
Exposição individual de monotipias de Antonio Gerbase.
Galeria de Arte Paulo Capelari,
Porto Alegre, Brasil, 6 a 24 de novembro 2017.
“Relevos Oníricos” dá título à exposição que o artista plástico Antônio Gerbase inaugura no próximo dia 06 de novembro, na Galeria de Arte Paulo Capelari, em Porto Alegre. A individual reúne 21 peças na técnica de monotipia e quatro xilogravuras, em um total de 25 obras de médios e grandes formatos, que tem como tema predominante as montanhas. Paulo Borgato Olszewski assina a curadoria da mostra, que permanecerá em exibição até o dia 24 de novembro.
A atual exposição de Antônio Gerbase é resultado de um processo artístico iniciado há cerca de 10 anos e que nos últimos cinco tem se intensificado. Gerbase teve atuação por muitos anos como médico da Organização Mundial da Saúde (OMS) na área de AIDS e DST. Fora do Brasil desde 1991, mora em Genebra desde 1994, tendo desenvolvido uma ligação próxima com os Alpes, tão presentes na Suíça e nas vizinhas França e Itália. Atualmente, divide seu tempo entre trabalho de saúde pública internacional, seu chalé nos Alpes próximos a Genebra e em Porto Alegre. Pode-se cruzar a trajetória do profissional de saúde publica global com a sua produção de artista, na medida em que as vivências, internas e externas, do cidadão do mundo oferecem substância imagética (e estética) à sensibilidade do gravador e pintor. Por isso, em suas várias incursões pelo mundo, como atual consultor pela OMS, o Gerbase artista não dispensa seu kit de lápis, pincéis, tintas, aquarelas e guaches.
Antônio Gerbase fez seu aprendizado da observação aguda, de intensas e frequentes visitas aos museus do mundo, de seu espírito colecionador, de seu interesse pela historia da arte e do dialogo com outros artistas em suas frequentes andanças. Iniciou-se com intensa prática individual e solitária de desenhar e reinventar seu entorno, seja da natureza que o cerca, seja do obras de três artistas da virada do século 19 ao 20, os quais admira: Hodler, Valoton e Munch. O objetivo de atingir o essencial, a expressividade e a ironia é a difícil tarefa que ele se propõe a desenvolver. Tenta, não sem sofrimento, projetar o que tem dentro de si e produzir algo pertinente para as pessoas que o cercam. E para isto suas atuais interações com seus atuais mentores são fundamentais.
Com mais tempo em Porto Alegre, desde 2014, recebeu (e recebe), formação técnica regular de um naipe de reconhecidos artistas plásticos. Gustavo Freitas (xilogravura), Paulo Chimendes (litografia) Maria Tomaselli e Paulo Borgato Olszewski (pintura) e Marcelo Lunardi (gravura em metal), com o qual desenvolveu as monotipias desta exposição. O lugar de encontro é, na maior parte das vezes, o Museu do Trabalho, local especial e estimulante, onde imprime sua produção.
Nas 25 peças expostas, com seus relevos oníricos, a cor intervém a cada instante, de forma luminosa, revelando os muitos contrastes da paisagem e do olhar do artista. “Essa vida das Montanhas, Antônio Gerbase captou com maestria em suas aquarelas, óleos e xilogravuras. Estudou a geometria dos planos, sua arquitetura, as cores das montanhas e as cores dele. Porque a majestade de um monte, seu inesgotável volume com todas as suas dobras e nuances de cor faz a alma vibrar”, afirma a artista plástica Maria Tomaselli. Sobre o trabalho do artista também comentou o psicanalista Aldo Luiz Duarte: “A arte de Gerbase reflete mais a mente do que o olho, o que resulta na multiplicação de uma obra em muitas outras, singulares, dependendo de cada observador. O que mais se pode esperar de um artista?”.
A monotipia é uma técnica de impressão que consiste na reprodução de um desenho ou mancha de cor em uma prova única. Trata-se de uma placa sobre a qual uma imagem é executada com a tinta adequada. Esta imagem é impressa, tornando-se a cópia única, sendo impossível ser obtido novamente um exemplar igual. Desta maneira, a monotipia situa-se entre as áreas gráficas e o desenho (ou a pintura).
Conforme Luise Weiss, “a monotipia, portanto, constitui-se de um processo híbrido, entre a pintura, o desenho e a gravura. Aproxima-se do gesto da pintura, da mancha de tinta, ou do traço, da linha; ao mesmo tempo possui características próprias da gravura, como a inversão da imagem. Apesar de o próprio nome esclarecer, mono (único) e tipia (impressão), ou seja, que se obtém de uma prova única, em alguns casos há a possibilidade de se conseguir mais de uma cópia, evidentemente cada vez mais tênue, mais clara, permanecendo apenas um “fantasma”/ vestígio da imagem”.
A exposição proposta é fruto de um processo artístico que começou há cerca de 10 anos e se intensificou nos últimos cinco anos.
Antonio Gerbase trabalhou muitos anos como médico da Organização Mundial da Saúde (OMS) na área de AIDS, morando em Genebra desde 1994, tendo desenvolvido uma estreita ligação com as montanhas, tão presentes na Suíça. Autodidata, segue formação técnica regular em gravura desde 2014 (monotipias, madeira, metal e litografia).
Nas obras expostas, com seus relevos sonhadores, a cor intervém a cada momento, de forma luminosa, revelando os múltiplos contrastes da paisagem e do olhar do artista. “Esta vista das montanhas, Antonio Gerbase capturou-a com maestria em suas monotipias e gravuras. Ele estudou a geometria dos planos, sua arquitetura, as cores das montanhas e suas cores favoritas. Porque a majestade de uma montanha, seu volume inesgotável com todas as suas dobras e tons de cor vibra a alma”, diz a artista austríaca Maria Tomaselli em recente exposição.
Meu pai era médico, minha mãe, dona de casa. Tiveram duas filhas, ambas médicas, e quatro filhos: dois engenheiros, um médico e eu, a coisa mais parecida com um artista que surgiu nessa respeitável prole. O que aconteceu comigo? Alguma mutação inesperada em meu DNA? É difícil falar em ambiente e educação, já que os seis filhos e filhas percorreram trajetórias bem semelhantes na infância e na adolescência. Mas não leram exatamente os mesmos livros, nem ouviram os mesmos discos, nem foram nos mesmos bailes. E, como diz a sabedoria popular, os bailes é que estragam as pessoas.
O mais provável é que tenha sido um pouco de tudo. Algum evento poderoso de meu passado – ler A chave do tamanho, de Monteiro Lobato, dançar um compacto de Chuck Berry, ou assistir a O Professor Aloprado prestando mais atenção em Stella Stevens do que em Jerry Lewis – interagiu com os mecanismos genéticos que fabricavam minha personalidade, e o resultado é esse “eu” que carrego hoje, para o bem e para o mal. Pronto! Acabo de encontrar uma explicação científica para minha tendência artística.
Mas o caminho inverso também é comum. Minha irmã Maria, médica e cientista, faz vídeos lindos das suas viagens. Meu irmão Zeca, engenheiro mecânico, é um fotógrafo incrível. Meu irmão Luiz, engenheiro eletrônico, agora é piloto de drone e conta histórias usando alta tecnologia. Minha irmã Andréa, dermatologista, é uma colecionadora de antiguidades. Pra completar, meu irmão Antonio, médico especialista em saúde pública, inicia sua mostra “Relevos Oníricos – Monotipias” no próximo dia 6, às 19h, na Galeria de Arte Paulo Capelari (Rua Cel. Bordini, 665). Aposto que o Dr. José e a Dona Léa nunca cogitaram em colocar no mundo tantos artistas.
O físico David Bohm explica que tanto o artista quanto o cientista têm necessidade de “descobrir e criar algo inteiro, belo e harmonioso. No fundo, é o que um grande número de pessoas em todas as esferas da vida buscam quando tentam escapar da monótona rotina diária.” Arte e ciência, assim, são duas irmãs ocupadas com a mesma tarefa: substituir o tédio pela criação. E nós, Gerbases, vamos nos ocupando também. Pelo menos enquanto não chega a hora do próximo baile.
Antonio Gerbase é nascido em 1951, em Porto Alegre. Reservado, despretensioso, mas em plena efervescência artística, Antonio Gerbase, divide seus dias entre Porto Alegre e Genebra, além de viajar por vários continentes por sua atividade como consultor em Saúde Pública Internacional. As paisagens desses lugares, sensações das cidades, pessoas e animais estão presentes na obra de Gerbase, dedicado a aquarelas, xilo, lito, gravura em metal, Ipad Art assim como fotografia. O artista tem obras vendidas na Suíça, França, Itália, Noruega e Brasil.
A importante trajetória de Gerbase na medicina iniciou em Porto Alegre, no ano de 1974. Também trabalhou com o Ministério da Saúde do Brasil e Organização Pan-americana da Saúde até 1990. Entre 1991 e 1993 foi pos graduando da Escola de Saúde Pública da Johns Hopkins University em de Baltimore, nos Estados Unidos. De 1994 a 2013 foi medico da Organização Mundial da Saúde, em Genebra. Desde 2013, é consultor em Saúde Pública Internacional.
Quando perguntado em que momento a medicina e a saúde publica se assemelham à arte, Antonio Gerbase responde: “A criatividade e novas abordagens são fundamentais para lidar com uma situação especifica no contexto da evidência científica. O modo de fazer, o modo de convencer , um enfoque “esteticamente harmônico” que assegure uma aliança como o paciente ou com responsáveis pela saúde publica, exige mais do que evidência científica, sem dela prescindir”, explica o médico.
Por outro lado, prossegue Antonio Gerbase: “A alternância entre Arte e Saúde Publica tem um efeito de “repouso no trabalho”, pois as habilidades exigidas, o processo e o produto final são diversos. Ao começar novo projeto em uma, tendo se exaurido no outra, o sentimento é de liberdade e entusiasmo renovado seja para iniciar uma gravura de uma paisagem desértica, seja para implementar pesquisa de novos testes diagnósticos para ISTs.
Exposição – Armazém das Artes Carmelita
Porto Alegre, Brasil, 19 de janeiro 2017
Urbino in Acquarello, Fortitude and Challenge
1 a 5 de Maio 2019, Urbino, Itália
A exposição proposta é fruto de um processo artístico que começou há cerca de 10 anos e se intensificou nos últimos cinco anos. Participou em inúmeras exposições individuais e coletivas na Suíça, Brasil e Itália.
Antonio Gerbase trabalhou por muitos anos como médico da Organização Mundial da Saúde (OMS) no campo da AIDS. Ele vive em Genebra desde 1994, tendo desenvolvido uma estreita conexão com as montanhas alpinas e as paisagens do interior de Genebra.
Nas obras expostas, a maioria das paisagens, a técnica e a linguagem foram adaptadas às fontes de inspiração e às necessidades de expressão do artista.
Ele está interessado em colocar a arte em lugares onde possa ser vista por uma ampla gama da população, estimulando o olhar e ao mesmo tempo tornando a exposição um locais de diálogo entre todos os interessados.
Reliefs oniriques – Gravures de Montagnes, monotypes, gravures en bois,
Meinier, Suíça, Maio 2019
Esta mostra inclui gravuras e fotografias realizadas nos últimos cinco anos.
Há cores que foram acrescentadas “a posteriori”, não muito habituais em gravuras até algum tempo atrás. Há um certo medo intelectual da cor. O mesmo do tempo em que filme sério era o preto e branco. Que a gravura de conteúdo era preta, e ponto. Medo de ser popular, medo de gosto de pobre (“o luxo do pobre é a cor”, disse Aldemir Martins).
Seja como for as cores ai estão por influencia de amigos artistas (Paulo Borgato, Claudia Sperb, Maria Tomaselli), por limitações técnicas locais de introduzi-las já na impressão, por vontade de colocá-las e por que muitos gostam.
As fotografias, influencia no olhar das gravuras e por elas influenciadas são para mim, companheiras habituais. Desta forma estão juntas, se espelhando aqui também. O espelho apareceu porque na sala da “maior menor galeria de Porto Alegre”, no dizer de seu entusiasta dono, João Luis Steinbach, há dois espelhos.
E o espelhar remete para,
– Arte como espelho da natureza, como queria Courbet.
– Arte como espelho de nós mesmos. Até do inconsciente como querem alguns.
– Arte como espelho de quem vê.
– Arte de hoje em que pode se espelhar tudo o que se quer, da época e do jeito que se quer. Mais um problema do que uma facilidade…
– Espelhar de duas gravuras, uma mono e uma de varias cores.
– Espelho dentro das gravuras, céu na água, no gelo, nas sombras.
– Espelho da loja do João Luis. Quem escolhe o que quer ver é quem olha, ninguém mais. Sem cura nem idéias museologias. O que já espelha uma idéia…
– Espelho de gostos, espelho de desgostos, espelho do outro, que representa muitas vezes o céu, não o inferno.
Agradeço a compreensão com minha presença demasiado constante, talvez insistente, mas garanto que a pletora de obras é orgânica e pessoalmente coerente. Tudo se espelha, portanto nem tudo é transparente. Espero que a exposição transmita à vocês algo de bom, algo de belo, algo a refletir. Espero também que possam atravessar os espelhos como a Alice, “que ousou entrar no outro pais e descobriu o mundo” como disse o grande amigo Aldo Duarte.
Cores no espelho – aquarelas e gravuras
Galeria Prata da Casa.
Porto Alegre, Brasil, agosto 2019
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